segunda-feira, 30 de julho de 2007

#76 - Oswaldo Cruz


Houve uma época em que todos os homens usavam bigodes. Ela compreende o fim do século XIX e pelo menos as três primeiras décadas do XX. A moda peluda demandava pessoal de barbearia altamente especializado e o nível dos bigodes subiu significativamente. Por isso, podemos dizer que não era onda ter um bigode maneiro. O que diferenciava os homens das crianças era, isso sim, o uso que cada um fazia de seus pelos faciais meticulosamente aparados, engomados e penteados entre o nariz e a boca.

É aí que entra Oswaldo Cruz, maior sanitarista da história do país. Ao lado do engenheiro Pereira Passos, então prefeito carioca, e do presidente Rodrigues Alves (ambos de bigode e cavanhaque), promoveu o maior AUÊ na cidade, no início do século XX. Mais um bigode que mexeu profundamente com a vida da nação. A capital da recente República era um notório foco de doenças e epidemias, evitado pela nata da sociedade européia, que passava ao largo da Guanabara e partia direto para veranear e fazer negócios na portentosa Buenos Aires.

Passos e Alves pretendiam transformar o Rio na Paris Tropical e, para isso, propunham a demolição dos cortiços do centro da cidade e a remoção de seus moradores. Recém-formado no Instituto Louis Pasteur e nomeado o sanitarista oficial do Estado, Oswaldo Cruz baixou nessa conjuntura a lei da vacina obrigatória. A decisão gerou, de imediato, a maior revolta popular da história de cidade, no ano de 1904. O populacho carioca, ainda em descompasso com o Século das Luzes, não acreditava nessa história de "vida microbiótica" e, insuflado pela oposição, achava que as reformas de Cruz eram mais uma desculpa para botar abaixo seus insalubres muquifos. O saldo final da revolta foi de 30 mortos, 110 feridos e 900 presos deportados para o Acre.

Usando o bigode como uma barricada moral, o sanitarista resistiu às críticas e entrou para a História como um modernizador, redimido diante da opinião pública tupiniquim.


Este post foi escrito em colaboração com Victor.

2 comentários:

Anônimo disse...

900 "deportações" para o "Acre"...

velho Oswaldo "Stallone Cobra" Cruz: você é a varíola; eu sou a cura.

Victor

Defunto Autor disse...

O iluminado Paschoal disse tudo.