quarta-feira, 23 de abril de 2008

#179 - Lost Zweig

Um judeu austríaco, que veio morar no Brasil fugido da ditadura nazista, escreveu um livro chamado "Brasil, país do futuro"

Deslumbrado com nosso desbunde, o gringo fez, logo na introdução, a melhor definição do "bom selvagem" que o povo brasileiro poderia receber. Senão, leiam:

"O Brasil foi a única entre as nações ibéricas que jamais conheceu perseguições religiosas sangrentas, nunca viu arder as fogueiras da Inquisição, em nenhum outro país os escravos foram tratados de forma relativamente mais humanitária. Mesmo suas revoltas internas e mudanças de governo se efetuaram praticamente sem derramamento de sangue. O rei e os dois imperadores que a vontade do Brasil de se tornar independente fez deixar o país retiraram-se sem serem importunados, sem ódio. Desde a independência, mesmo os líderes de revoltas e levantes fracassados não tiveram de pagar o preço com a vida. Os governantes deste povo sempre se viram inconscientemente forçados a se adaptar a esse espírito de conciliação.

Não foi acaso o fato de que durante décadas, a única monarquia entre todos os países da América – o Brasil teve como seu imperador o regente mais democrático e mais liberal de todas as cabeças coroadas. E hoje, enquanto ditadura, conhece mais liberdades individuais e contentamento do que a maioria dos nossos países europeus.

Por isso, é sobre a existência do Brasil, cujo único desejo é a construção pacífica, que repousam nossas maiores esperanças de uma civilização futura e de pacificação do nosso mundo devastado pelo ódio e pela loucura. Onde quer que forças éticas estejam trabalhando, é nosso dever fortalecer essa vontade. Ao vislumbrar esperanças de um novo futuro em novas regiões em um mundo transtornado, é nosso dever apontar para este país e para tais possibilidades."

Zweig se suicidou em 1942, em Petropólis, desgostoso com a verve ruim que rolava na Europa naquela época e sem ver o que os deuses preparavam no futuro próximo para Paraíso Tropical.