– Café para dois, senhor?
Não, só para um.
– Ué, e a Márcia?, questiona o recém-novamente-velho-aliado Júlio (Daniel Dantas), sem entender a negativa do amigo-quando-convém que visitava pela manhã o camareiro do cinco estrelas
Malu - mulher de considerável juventude em 1991 - escorrega nas próprias lágrimas e, aos poucos, seu rosto cai da parede do banheiro até o chão. Mais humilhada que a Argentina em Copa América, antes mesmo que chegasse ao final o epitáfio do mestre.
– Ñhnaáá... Quando essa puta sair do banho, eu despacho ela e (segue-se algo como um foda-se).
Nem o caráter para-lá-de-duvidoso de Júlio imaginava tamanha escrotice de quem até pouco antes parecia se regenerar. Fato que inspirou até o colunista Agamenon Mendes Pedreira a filosofar sobre o ex-presidente e hoje companhêro senador das Alagoas que não acreditava na ‘felipebarretização’ de seu governo.
Ao contrário de Fernando Collor, porém, Felipe Barreto fingiu direitinho – bem mehor que o choro de dona Rosane – e ficou no lugar que era dele de direito. Não por vontade do povo nem de ninguém senão dele mesmo. Barretão era o comando e quem comandava era o Barretão, na modesta opinião deste que vos escreve a melhor criação de Gilberto Braga em todos os tempos, pondo até Odete Roitmann, com seu excesso de frescuras, para trás.
Felipe Barreto era tão escroto que até hoje a Globo não reprisou O Dono do Mundo. É uma pena. O ômi era um canalha com estilo, que curtia muito se divertir, principalmente se fosse às custas dos outros. É que um país de tolos gosta de ser enganado. Daí sua regeneração no meio da novela, tão verdadeira quanto um aleijado largando a muleta e andando em um culto da Igreja Quadrangular do Triângulo Redondo.
Seu bigode inspirou os takes de O Grande Ditador na abertura da novela, mas Felipe não tinha nenhuma semelhança com Hitler. Jamais fuderia com judeus, eslavos e nem com ciganos. Já com judias e ciganas... quem sabe uma tenista russa... Especialmente se fossem comprometidas.
Na foto ao lado, Felipe Barreto comemora aniversário, disfarçado de Antonio Fagundes
Sob uma análise psicoginecológica, o cirurgião plástico amalgamava cafasjestes anteriores (o cafetão Bibelô, de Os Sete Gatinhos) e posteriores (o bom vivant Atílio, de Por Amor) de Antonio Fagundes em um perfeito Pitanguy Tirador de Cabaços. Casado por interesse com a ricaça, que ainda dava um caldo legal, Stella (Glória Pires), ele não era bobo de se contentar com isso. Quanto mais, melhor, especialmente se ele fosse o primeiro.
Movido pelo instinto de repórter de revista de fofocas, ele descobre que a noiva (Malu Mader) de um empregado era cabaço e os convida para passar a lua-de-mel em seu chalé nos Alpes. Inventa um trabalho pro bundão fazer e, enquanto isso, inaugura a vadia. E isso era só o começo do canalha que causou protestos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – a Revolta dos Bisturis, inconformados em ser identificados com tamanho energúmeno.
Ao invés de dizer que tinha hímem complacente, Márcia – este era o nome dela –, não teve malandragem e confessou a traição ao corno, que acabou se matando. Depois, foi procurar o doutor para que assumisse o mal que fizera e prosseguir o “lance muito forte” que havia rolado entre eles, segundo as próprias palavras dela à mãe. Saiu de lá com a proposta de um cheque (“quanto você quer?”) para abortar em uma clínica clandestina, ofertada com impassível expressão de enfado sob aquele bigode de cafajeste.
Isto tudo antes de tentar matá-lo – e nem atirar direito conseguiu – e de acreditar em sua regeneração, apaixonando-se novamente por ele e tendo o final que toda vadia utópica merece.
Mesmo no período em que perdeu grana e se fingiu de bonzinho, continuava mandando ver. Separado de Stella, continuou ‘amigo’ da ex, dando a ela um consolo quando esta brigou com o novo namorado, Rodolfo, vivido por Kadu Moliterno, que, estéril, recebeu a notícia de que “seria pai” e comemorou a boa nova com um soco na cara da moça. Até este hábito, que os leitores de Caras julgavam recente, foi motivado, 16 anos atrás por Felipe Barreto.
Texto escrito (quase inteiro) por João Pequeno, ex-repórter do Povo.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
#107 - Filho, não. Ele é O Dono do Mundo
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5 comentários:
Genial! Genial!
Ganial mesmo!
eu sabia que isso seria genial. obrigado, joão pequeno.
genial mesmo! mas como o cara sabe toda o enredo da novela com tantos detalhes?
HelenaP
Sem contar a cena final da obra, quando nosso herói olha diretamente para o telespectador e solta "e é virgem!", quando do seu casamento com uma lolita filha de magnata.
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