quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

# 159 - Jece Valadão

Já faz mais de um ano, mas, para seus seguidores, ainda é difícil tocar no assunto. Jece Valadão, o cara mais durão do cinema nacional, entrou pelo cano eterno em 27 de novembro de 2006, aos 76 anos, deixando o mundo órfão da encarnação triunfal e fundamental do poder do bigode.

Ele morreu sem saber fazer café, acender um fogão ou arrumar a casa. “Minhas mulheres sempre fizeram isso pra mim”, contava o homem que, com mais de cem filmes e 50 peças de teatro nas costas, ficou marcado pelo estigma de cafajeste. Sexista confesso, chauvinista convicto, foi o irascível paradigma do macho brasileiro.

Começou como radioator em emissoras do interior do Espírito Santo e fez epquenos papéis até se consagrar na pele do malandro Miro em "Rio 40 graus"- catapultado por seu escrotérrimo bigode. Ajudou a fundar o Cinema Novo e lançou as bases do mito do cafajeste, que encarnaria pelo resto da vida.

Daí em diante, atuou em uma porrada de filmes e peças e - honra máxima - foi jurado do programa de calouros do Chacrinha. Pedro de Lara com sex appeal. Também encarou sem reclamar uma boa dezena de pornochanchadas – ou “comédias urbanas eróticas inspiradas na literatura”, como preferia chamá-las.

Nesse período, Jece se casou cinco vezes e teve um belo punhado de aventuras extraconjugais. Vivia num apartamento com a esposa da vez, encontrava em outro a amante oficial e mantinha uma garçonnière de emergência para “atender às aflitas”. Em suas múltiplas e movimentadas alcovas, fez nove filhos, dos quais reconheceu apenas cinco; os demais foram criados por outros homens. Mesmo dos herdeiros que considerava legítimos, Jece foi pai ausente e tornou-se célebre o episódio em que presenteou um filho de 7 anos com um fusca para compensar a falta de carinho.

Ao fim do casamento com a atriz Vera Gimenez - o quarto do currículo - Jece se deu conta de que nunca havia estado plenamente solteiro, apesar da alta rotatividade de amantes. Foi quando decidiu montar a Garçonnière Fundamental num apartamento duplex em Copacabana. Ao entrar no recinto, a moça da vez - "uma por dia" - não deveria ter dúvidas sobre o que aconteceria momentos depois. A porta da frente, ao se abrir, disparava sensores que acionavam uma cama que se desdobrava milagrosamente da parede, a água da piscina térmica do segundo andar começava a esquentar, um armário se transformava em bar e acendia-se uma luz tênue. "Mandei fazer tudo de propósito", dizia, “a menina tinha que entrar e pensar: vou ter que dar”. Na portaria, um leão de chácara impedia que mulheres que carregassem pasta de dente na bolsa entrassem no recinto. "Aí já era mudança. Eu não queria mulher se mudando pra lá", contava Jece, um verdadeiro ídolo de bigode.